quinta-feira, 10 de abril de 2008

Muita calma nessa hora

Monstruoso o caso da morte da menina Isabela, em São Paulo. Um ato de crueldade e covardia terrível! Espero, sinceramente, que o autor seja banido completamente da sociedade, já que no Brasil, à exceção dos “tribunais” do tráfico e das milícias, a pena de morte não existe.

Contudo, terrível também está sendo a forma com que parte da imprensa (sobretudo a sensacionalista) vem tratando o caso. O pai e a madrasta da menina, até então, considerados pela polícia suspeitos do crime, já estão praticamente taxados de assassinos. O programa “Balanço Geral”, do nosso “ex-futuro prefeito” Wagner Montes, na Rede Record, por exemplo, apresentou uma matéria que encerrava da seguinte forma: “...Isa não brilhará mais nas festas da escola, na brincadeira com os amigos e nos braços da mãe.” Pergunto eu: e o pai? Alguém já parou pra pensar no tamanho da dor que Alexandre Nardoni, o pai, está sentindo nesse momento, caso ele não esteja envolvido no crime? Como deve ser perder uma filha sem que lhe dêem o direito de sofrer? Ao se entregarem à polícia, na quinta-feira, Alexandre Nardoni e sua atual esposa, Anna Carolina Jatobá, tiveram que ouvir uma mulher os chamando de “assassino” e “vagabunda”. Parece-me ainda um pouco precipitado fazer esse juízo dos dois. Ainda não se sabe ao certo o que ocorreu naquela noite.

Já o jornal O Globo publicou uma carta da “Rainha dos baixinhos” Xuxa Meneghel, em que ela questionava se “Ser o ‘responsável’, dá direito a bater na criança, com a frágil desculpa de que se está educando?!!!!” Um momento, “Rainha Xuxa”! Permita-me interferir em sua opinião real. Ninguém sabe ainda se foi o pai de Isabela que a jogou do sexto andar, mas independente de quem tenha sido o autor do crime, com certeza não estava tentando educar a menina.

É necessário o máximo de cautela em um caso tão delicado e complexo como esse. Não custa lembrar a história de Daniele Toledo do Prado, que foi injustamente “condenada” pela morte de sua filha. Daniele foi acusada de colocar cocaína no leite que estava na mamadeira da menina de apenas um ano e três meses e ao chegar à cadeia pública de Pindamonhangaba, foi agredida pelas outras presas que a chamaram de “bicho da mamadeira”. A jovem teve a mandíbula quebrada, hematomas na cabeça e ainda perdeu parte da audição por conta de uma presa que enfiara uma caneta em um dos seus ouvidos. Depois de 37 dias de prisão a jovem foi posta em liberdade assim que o laudo definitivo do Instituto de Criminalística provou que não era cocaína o pó branco encontrado na mamadeira. Além da filha, Daniele perdeu a dignidade, sendo rotulada por parte da imprensa e da sociedade como um monstro.

Eu não faço a menor idéia se Alexandre participou do crime ou não. Mas se a polícia ainda não tem respostas conclusivas sobre o acontecido e a justiça não possui material para julgar o caso, quem são os jornalistas e a sociedade para condená-lo?

Um comentário:

Renata Amarante disse...

Pois é Rodrigo. Estou fazendo um comentário em um texto bem antigo, mas o comentário em si é atual. Infelizmente a sociedade está sempre em busca de algum bode expiatório, e sobre ele deságua toda a sua incapacidade e frustração de terem seus problemas resolvidos. Você comenta sobre os jornalistas, e eu a cada dia em que eram veiculadas notícias sobre esse episódio, diga-se, lamentável, perguntava-me sobre as pessoas que circundavam a delegacia, a casa dos pais do Alexandre, enfim, até as que levaram bolo de aniversário.
Parece que no nosso país nunca aconteceu de uma criança ser morta, seja por quem for. Pais, tios, empregadas...
Se pararmos para refletir, é uma situação realmente muito grave, não o fato de matar uma criança (que evidente é grave, não precisa reflexão), mas sim o fato dessa condenação imposta antes mesmo que seja cumprido o que é determinado pela lei. A própria polícia a todo o momento indicava o Alexandre e sua esposa como culpados, e acho que todos viram isso.
A população está muito carente, de tudo: serviços públicos adequados, eduação, religiosidade, até mesmo doses de moralidade, pq infelizmente, no apagar das luzes, a população, em grande parte, é mais bandida que os bandidos de carteirinha.
Assim, para talvez se livrarem dessa dose de culpa que recai sobre cada um, é que escolhem um qualquer, e se "vingam".
E nesse caso, não são só os jornalistas, são os comuns, os policiais, as autoridades...