quinta-feira, 10 de abril de 2008

Chegamos!

Quando eu tinha nove anos, fiz uma peça no colégio em que, na cena final do espetáculo, dois garotos da 4ª série me erguiam, cada um segurando uma perna, e lá no alto eu tinha que abrir os braços, enquanto eles me rodavam. A primeira vez que ensaiamos essa cena morri de medo. Lembro-me perfeitamente do que me falou a professora neste dia: “Pode ficar tranqüilo. Se cair, do chão não passa.” Foi a primeira vez que ouvi essa expressão. E, em meio ao meu temor, até achei graça pelo tom sarcástico da frase.

Agora, vamos lá! Dezesseis anos depois, deparo-me com uma realidade assustadora. Em menos de uma semana, pasmem vocês, duas crianças foram jogadas (ou caíram) da janela de suas casas. Em se tratando da semana do dia da mentira (1º de Abril) fica até mais difícil acreditar que esse tipo de atrocidade esteja acontecendo, mas, infelizmente, é a pura verdade.

Procurar algum motivo que justifique essa terrível coincidência é praticamente impossível, mas, o fato é que hoje vivemos em uma situação limite, onde a intolerância vem prevalecendo. A cada dia é maior a pressão a que cada cidadão está exposto. Somos vítimas de um sistema que cada vez mais nos cobra resultados positivos e nos explora. Nesse ambiente de emprego escasso, árdua competição, falta de recursos e fácil acesso às drogas, nos tornamos rivais uns dos outros e os primeiros a sofrerem as conseqüências, são as crianças.

Estamos inseridos em uma sociedade amarga e doente em que as pessoas estão entrando em colapso, sendo impulsivas e tendo reações inconseqüentes. Podemos e devemos sim mudar esse panorama, sendo mais tolerante com o próximo, refletindo antes de tomar qualquer atitude e lutando para que em nossa sociedade os pais possam criar dignamente seus filhos.

O que não podemos fazer é deixar que as crianças continuem sendo vítimas de um sistema mesquinho e cruel. Uma sociedade que não protege suas crianças, é uma sociedade sem esperança. A expressão que me tranqüilizou há 16 anos atrás, hoje me aterroriza. A brutalidade sofrida por essas duas crianças mostra que como sociedade já caímos, chegamos ao chão, e espero sinceramente, que daí não mais passemos, pois já extrapolou-se, há muito tempo, todo e qualquer limite de violência contra as crianças.

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