segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Homenagem ou castigo?

Hoje estou aqui para fazer uma campanha. Clamo às autoridades competentes para terem cuidado ao batizarem ruas, praças, escolas, com os nomes dos honrosos brasileiros que por aqui passaram e agora descansam em paz. Ou pelo menos tentam. Pois a homenagem de hoje pode se tornar a difamação de amanhã.

Eu, por exemplo, não agüento mais essa situação! Há meses só se fala na imprensa que o Tom Jobim não dá lucro, está abandonado, obsoleto, que precisa de mais recursos. Como assim o Tom precisa de mais recursos??? Um dos maiores músicos da história, sem recursos?! Sem recurso é o Latino! E o pior: agora estão querendo privatizá-lo! Privatizar o Tom Jobim??? Como é que alguém pode pensar numa coisa dessas? Onde é que já se viu isso? Será que meu maestro soberano deixará de ser Antônio Brasileiro? Bom, há muito, ainda em vida, ele mesmo já previa que seria “melhor lotear o nosso amor”.

Outra história que me vem me incomodando é a seguinte: para homenagear Dorival Caymmi, a Prefeitura do Rio se precipitou e, prontamente, alguns dias depois de sua morte, batizou uma rua no Leblon com o nome do poeta. Dorival Caymmi virou nome de rua. Quer dizer, rua não. Beco! O baiano que achava “doce morrer no mar” vai ter que se contentar, agora, com o gosto amargo de estar morto num beco. A “Rua” Dorival Caymmi é um beco sem saída, de uns três metros de largura por três de comprimento, onde não há nada, só entulho. Um beco de onde não se pode esperar nem uma vizinha passar com o seu vestido grená.

O Souza Aguiar é um outro exemplo de minha indignação. Pra ser sincero, nem sei quem foi Souza Aguiar, mas a essas alturas, por mais que ele tenha sido um grande homem, ninguém mais sabe disso. Hoje só se sabe que o Souza Aguiar é uma porcaria, que o Souza Aguiar não funciona, que o Souza Aguiar mata as pessoas nas suas filas. Quer dizer, de engenheiro e prefeito do Rio de Janeiro, o coitado do Souza Aguiar passou a assassino! Porque, para quem não sabe, Souza Aguiar foi prefeito da nossa cidade de 1906 a 1909. Por curiosidade eu fui pesquisar. Mas de que adianta? Disso ninguém se lembra mais! E aí eu pergunto: quem garante que daqui a 100 anos as pessoas não terão uma visão distorcida de Tom e Caymmi, assim como aconteceu com o velho Souza Aguiar?

Por isso, eu peço: quando eu morrer, me esqueçam! E, a partir de hoje, quando forem homenagear alguém, pensem duas vezes antes de fazer. Proponho mudarmos os critérios de batismo dos logradouros e entidades públicas brasileiras. Quando forem dar nome a algum hospital sem equipamentos, uma escola sem professores, ou uma via esburacada pensemos em nomes como George Bush, PC Farias, ou Maradona, que assim, os cidadãos poderão até não saber por que estão xingando, mas os homenageados com certeza vão saber por que estão sendo xingados.

Em tempo...

Quer dizer que a CBF está reclamando da falta de público no jogo Brasil X Bolívia? Vamos aos fatos...

Alguém teve a brilhante idéia de realizar um jogo entre a Seleção Brasileira (do técnico Dunga, diga-se de passagem, com craques como Josué, Jô, o fiel escudeiro Elano e a eterna promessa Diego) e a Bolívia, lanterna das eliminatórias, às 22h de uma quarta-feira, no Engenhão, cobrando ingressos a R$30, R$100 e R$200!!! Pois eu vos digo: Senhores membros da CBF, um jogo desses não lotaria nem na Otariolândia!


A nobre Confederação Brasileira de Futebol também se queixou – e aí com toda a razão - das vaias proferidas pelos poucos torcedores presentes ao Estádio. O torcedor carioca é realmente muito exigente! Achar ruim um jogaço desses?! “Ah, foi 0 X 0.” E daí, meu amigo?! Os passes errados do Josué e o cruzamento do Maicon na arquibancada já valeram o ingresso. Sem contar que não é todo dia que podemos ver o Lúcio jogando de atacante. Quer ver gol, vá a uma concessionária da Wolkswagen!

Por conta de todas essas injustas manifestações dos cariocas, a CBF já pensa em tirar do Rio o jogo contra a Colômbia, em 15 de Outubro, marcado para o Maracanã. Pois, eu imploro: por favor, tirem! Que jogo ruim aqui no Rio, já temos os do Fluminense.

O boleiro Lula


Ah, pera aí! Depois de seis anos como presidente, o Lula faz um de seus comentários mais sensatos (e o melhor, pensamento próprio e genuíno, que ninguém escreveu para ele) e as pessoas vêm criticar?!?!?!


O Lula tem toda a razão! De um modo geral, falta vontade aos jogadores brasileiros, sim. Os hermanos são muito mais dedicados e aguerridos. Disso, o Lula entende. O cara é boleiro! Quando era operário, segundo palavras do próprio presidente, na hora do almoço ele encarava aquele prato de peão, tomava uma cachaça e ia jogar uma pelada de baixo de um sol a pino do meio-dia. Isso é que é vontade de jogar bola, o resto é brincadeira. É claro que o barbudo fica indignado ao ver esses caras ganhando uma fortuna, com todas as regalias que um atleta pode ter e fazendo corpo mole!


É por essas e outras, que depois do jogo com o Chile, já tinha gente defendendo a presença do presidente no banco da seleção brasileira. Um dos mais entusiasmados era o Zagallo, que inflamava: o Lula é 13!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Para Lennon e McCartney

No ano de 1971, o ex-Beatle, John Lennon pregava a união dos povos, a paz universal e a unificação do mundo através da canção “Imagine”. Mais de três décadas se passaram e hoje o sonho de Lennon parece mais próximo da realidade.

Essa semana, li no jornal a notícia de que o responsável pela organização urbana do Rio de Janeiro, aquele que tem como uma das funções coibir a presença de camelôs nas calçadas, se afastou do cargo para se lançar candidato a vereador. O curioso é que, além de sua mulher tê-lo substituído no cargo municipal, o candidato a vereador estaria com bastante popularidade entre os eleitores camelôs. Eu acho muito bonita e saudável essa integração entre os povos, a busca pelo diálogo e o entendimento entre pessoas que lutam por diferentes objetivos. Já é possível imaginar, não todas, mas pelo menos algumas pessoas compartilhando o mundo, como queria Lennon. O ex-Beatle estaria orgulhoso se estivesse vivo e morando aqui em nosso país tropical, onde a união entre aqueles que, no passado, eram adversários, torna-se cada vez mais comum. Aquela história de que “Taxista vota em taxista!”, “Médico vota em médico” e “Motoqueiro vota em motoqueiro!” já é estratégia superada.

Não me espantarei nem um pouco se, qualquer dia desses, durante o meu almoço, enquanto me entretenho com o Horário Eleitoral Gratuito, escutar um candidato falando entusiasmado: “Bandido, que é bandido, vota em policial!”. Ou “Petista que é petista vota no PMDB!”. Ou ainda “Flamenguista que é Flamenguista, vota no Eurico!” Não é loucura, nem promiscuidade. Trata-se da união dos povos, cultivada por John Lennon há mais de 35 anos atrás! Bem que ele disse que não era o único sonhador. Pelo visto, todos os outros vieram para cá.

Cielo, Escracha!!!

O “Cala-te boca!” não chegou a tempo de censurar César Cielo. O homem mais rápido do planeta nas piscinas deixou para trás a diplomacia e botou a boca no mundo, criticando vorazmente a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) pela falta de apoio. Completamente justificada a revolta do atleta, que só chegou a uma medalha de ouro, graças ao paitrocínio! Cielo merece os parabéns pelas medalhas e pela atitude! Hoje, o “Cala-te boca” vai ter que ser substituído pelo bordão do apresentador Wagner Montes: Cielo, “Escracha!!!!”

Cala-te boca!

Pra que o Brasil quer sediar uma Olimpíada? Se fosse para beneficiar o povo e o esporte brasileiro, bastaria investir todo o dinheiro que será destinado para construção de estádios e infra-estrutura no financiamento de atletas. Ah, mas dessa forma não dá pra fazer caixa doi... Cala-te boca!

Espírito Olímpico?

Vamos parar de hipocrisia! Não agüento mais ouvir a expressão "espírito olímpico"! De quatro em quatro anos os governantes lembram-se que outros esportes além do futebol também são praticados no Brasil. Ou melhor, tentam ser praticados no Brasil.

Alguns esportes não têm apoio algum do governo e, lógico, por conta disso chegam em nível amador nas Olimpíadas – quando chegam – enquanto que outros países estão anos-luz a frente imersos no profissionalismo.

E não estou falando de natação ou basquete, onde encontramos os fenômenos imbatíveis Michael Phelps e o Dream Team. Posso me referir, por exemplo, ao Judô, esporte em que até temos tradição e algum investimento. Eu diria que é inadmissível e revoltante que um atleta de potencial olímpico como Eduardo Santos, até o ano passado, não tivesse o direito de fazer o exame para faixa preta por causa de R$1.500. Se esse país não tem condições de financiar um atleta com meros R$1.500, como pode querer algum resultado expressivo em meio aos melhores atletas do mundo? As palavras emocionadas do judoca que dizia “não ter tido competência para jogar com seu adversário” são o retrato mais óbvio da falência dos esportes no Brasil. Como é possível um atleta se dedicar realmente a uma modalidade, se ele tem que se preocupar em conseguir algum emprego para se sustentar?! O desgraçado tem que ralar o dia inteiro e no fim do expediente, já exausto, vai treinar. É por isso que só é atleta no Brasil, os que são apaixonados. Porque apoio não existe!