quarta-feira, 16 de abril de 2008

Eu já sabia!

Muito já foi discutido sobre o fato dos clubes grandes não jogarem fora de casa na edição deste ano, e quanto isso foi prejudicial para o fator “emoção” da competição. Porém, enxergo um outro problema que se repete há alguns anos, mas é pouco questionado: a fórmula do campeonato.


Diz o regulamento que se um mesmo time vence os dois turnos, é declarado campeão sem a necessidade dos dois jogos finais. Se não há jogo, não há venda de ingressos, nem transmissão pela TV. Agora, eu pergunto: qual o clube carioca que, nos dias de hoje, está em condições de dispensar uma renda proveniente de pelo menos 150 mil espectadores (imaginando que cada jogo leve 75 mil torcedores ao Maracanã), mais as cotas de televisão?


Veja bem, não estou falando em complô, teoria da conspiração, ou fraude. Falo de algo simples, objetivo e concreto. Os clubes são instituições que dependem de dinheiro para se manter. Sendo assim, não é interessante para nenhum clube, do ponto de vista financeiro, vencer os dois turnos, consagrando-se automaticamente campeão. Coincidência ou não, o último clube que ganhou os dois turnos foi o Vasco, há 10 anos atrás (desconsiderando-se o “Caixão 2002” que está sub judice e tinha um regulamento diferente).


Bom, depois da vitória do Botafogo, percebemos que a coincidência permanece. Quanto à Taça Rio, espero que o Flu seja campeão, embora eu não possa fazer nenhuma previsão. Mas em relação à eliminação do Flamengo, posso levantar a placa com os famosos dizeres “Eu já sabia”.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Chegamos!

Quando eu tinha nove anos, fiz uma peça no colégio em que, na cena final do espetáculo, dois garotos da 4ª série me erguiam, cada um segurando uma perna, e lá no alto eu tinha que abrir os braços, enquanto eles me rodavam. A primeira vez que ensaiamos essa cena morri de medo. Lembro-me perfeitamente do que me falou a professora neste dia: “Pode ficar tranqüilo. Se cair, do chão não passa.” Foi a primeira vez que ouvi essa expressão. E, em meio ao meu temor, até achei graça pelo tom sarcástico da frase.

Agora, vamos lá! Dezesseis anos depois, deparo-me com uma realidade assustadora. Em menos de uma semana, pasmem vocês, duas crianças foram jogadas (ou caíram) da janela de suas casas. Em se tratando da semana do dia da mentira (1º de Abril) fica até mais difícil acreditar que esse tipo de atrocidade esteja acontecendo, mas, infelizmente, é a pura verdade.

Procurar algum motivo que justifique essa terrível coincidência é praticamente impossível, mas, o fato é que hoje vivemos em uma situação limite, onde a intolerância vem prevalecendo. A cada dia é maior a pressão a que cada cidadão está exposto. Somos vítimas de um sistema que cada vez mais nos cobra resultados positivos e nos explora. Nesse ambiente de emprego escasso, árdua competição, falta de recursos e fácil acesso às drogas, nos tornamos rivais uns dos outros e os primeiros a sofrerem as conseqüências, são as crianças.

Estamos inseridos em uma sociedade amarga e doente em que as pessoas estão entrando em colapso, sendo impulsivas e tendo reações inconseqüentes. Podemos e devemos sim mudar esse panorama, sendo mais tolerante com o próximo, refletindo antes de tomar qualquer atitude e lutando para que em nossa sociedade os pais possam criar dignamente seus filhos.

O que não podemos fazer é deixar que as crianças continuem sendo vítimas de um sistema mesquinho e cruel. Uma sociedade que não protege suas crianças, é uma sociedade sem esperança. A expressão que me tranqüilizou há 16 anos atrás, hoje me aterroriza. A brutalidade sofrida por essas duas crianças mostra que como sociedade já caímos, chegamos ao chão, e espero sinceramente, que daí não mais passemos, pois já extrapolou-se, há muito tempo, todo e qualquer limite de violência contra as crianças.

Muita calma nessa hora

Monstruoso o caso da morte da menina Isabela, em São Paulo. Um ato de crueldade e covardia terrível! Espero, sinceramente, que o autor seja banido completamente da sociedade, já que no Brasil, à exceção dos “tribunais” do tráfico e das milícias, a pena de morte não existe.

Contudo, terrível também está sendo a forma com que parte da imprensa (sobretudo a sensacionalista) vem tratando o caso. O pai e a madrasta da menina, até então, considerados pela polícia suspeitos do crime, já estão praticamente taxados de assassinos. O programa “Balanço Geral”, do nosso “ex-futuro prefeito” Wagner Montes, na Rede Record, por exemplo, apresentou uma matéria que encerrava da seguinte forma: “...Isa não brilhará mais nas festas da escola, na brincadeira com os amigos e nos braços da mãe.” Pergunto eu: e o pai? Alguém já parou pra pensar no tamanho da dor que Alexandre Nardoni, o pai, está sentindo nesse momento, caso ele não esteja envolvido no crime? Como deve ser perder uma filha sem que lhe dêem o direito de sofrer? Ao se entregarem à polícia, na quinta-feira, Alexandre Nardoni e sua atual esposa, Anna Carolina Jatobá, tiveram que ouvir uma mulher os chamando de “assassino” e “vagabunda”. Parece-me ainda um pouco precipitado fazer esse juízo dos dois. Ainda não se sabe ao certo o que ocorreu naquela noite.

Já o jornal O Globo publicou uma carta da “Rainha dos baixinhos” Xuxa Meneghel, em que ela questionava se “Ser o ‘responsável’, dá direito a bater na criança, com a frágil desculpa de que se está educando?!!!!” Um momento, “Rainha Xuxa”! Permita-me interferir em sua opinião real. Ninguém sabe ainda se foi o pai de Isabela que a jogou do sexto andar, mas independente de quem tenha sido o autor do crime, com certeza não estava tentando educar a menina.

É necessário o máximo de cautela em um caso tão delicado e complexo como esse. Não custa lembrar a história de Daniele Toledo do Prado, que foi injustamente “condenada” pela morte de sua filha. Daniele foi acusada de colocar cocaína no leite que estava na mamadeira da menina de apenas um ano e três meses e ao chegar à cadeia pública de Pindamonhangaba, foi agredida pelas outras presas que a chamaram de “bicho da mamadeira”. A jovem teve a mandíbula quebrada, hematomas na cabeça e ainda perdeu parte da audição por conta de uma presa que enfiara uma caneta em um dos seus ouvidos. Depois de 37 dias de prisão a jovem foi posta em liberdade assim que o laudo definitivo do Instituto de Criminalística provou que não era cocaína o pó branco encontrado na mamadeira. Além da filha, Daniele perdeu a dignidade, sendo rotulada por parte da imprensa e da sociedade como um monstro.

Eu não faço a menor idéia se Alexandre participou do crime ou não. Mas se a polícia ainda não tem respostas conclusivas sobre o acontecido e a justiça não possui material para julgar o caso, quem são os jornalistas e a sociedade para condená-lo?