segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

“E agora, José?”


E pela sexta vez depredaram os óculos do Drummond. A Prefeitura do Rio já transferiu para uma empresa privada a responsabilidade de cuidar do poeta, já colocou uma câmera apontada para o banco onde ele se encontra todos os dias, mas Drummond continua tendo problemas com seu belo par de óculos de bronze. Nem mesmo a rede Wi Fi gratuita na orla da “Princesinha do Mar” impediu que o mineiro fosse atacado por vândalos. Nessa última investida, Drummond tentou pedir socorro por MSN, Orkut e e-mail. Escreveu ele, antes de surrupiarem seu Lap Top: “Meu Deus, por que me abandonaste / se sabias que eu não era Deus / se sabias que eu era fraco.” Mas quem recebeu a mensagem, achou que era mais uma dessas correntes bonitas e chatas de fim de ano e deletou antes mesmo de lê-la.

O fato é que estive pensando e talvez o ato não tenha sido praticado por um vândalo, mas por um fã tentando evitar que o poeta seja obrigado a ver, com suas retinas tão fatigadas, que no meio do caminho tem muito mais que uma pedra. Hoje, no meio do caminho tem falsa blitz, arrastão e criança pedindo esmola no sinal. Tem aprovação automática, falta de emprego e a alta do dólar com a crise mundial. No meio do caminho tem buraco no asfalto, esgoto transbordando e falta de educação. Epidemia de dengue, falta de amor e impunidade com a corrupção.

É... Talvez seja mesmo melhor deixarem Drummond sossegado, sem seus óculos. Deixem-no aproveitar despreocupado o prazer da brisa do mar, do barulho das ondas e o cheiro da maresia, que é o que ainda resta daquela “vida besta, meu Deus.”

Ou então, que troquem os óculos por lentes de contato e preparem o poeta: “Seu Carlos, lembra que no meio do caminho tinha uma pedra? Pois esqueça aquele acontecimento, esqueça que no meio do caminho tinha uma pedra, porque hoje no meio do caminho não tem mais só uma pedra, tem pedra a dar com pau! Pedras que não tinham entrado na história.” E provavelmente ele responderia: “E agora, José?”


Um comentário:

Marize disse...

É Rodrigo, melhor deixar o poeta sem seus óculos, apenas com as lembranças da Princesinha do Mar de outrora.
Bjs.